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Como a Listeria monocytogenes sobrevive em alimentos refrigerados

Introdução


A segurança dos alimentos é um dos pilares centrais da saúde pública e da indústria alimentícia moderna.


No conjunto de micro-organismos patogênicos que oferecem riscos à saúde humana, a bactéria Listeria monocytogenes ocupa um papel de destaque.


Diferentemente de outros patógenos transmitidos por alimentos, esta espécie apresenta uma característica que a torna particularmente preocupante: sua capacidade de sobreviver e, em alguns casos, multiplicar-se em condições de refrigeração, ambiente normalmente hostil ao crescimento bacteriano.


Essa adaptação fisiológica desafia as estratégias tradicionais de conservação dos alimentos e amplia os riscos de contaminação em produtos amplamente consumidos, como carnes processadas, queijos, laticínios, vegetais minimamente processados e frutos do mar.


A relevância científica e social do tema é evidenciada pelo fato de que a listeriose, doença causada pela L. monocytogenes, embora relativamente rara em comparação a outras infecções alimentares, apresenta elevada taxa de letalidade, principalmente entre grupos vulneráveis como gestantes, recém-nascidos, idosos e imunocomprometidos.


De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a mortalidade associada à listeriose pode variar de 20% a 30%, tornando-a uma das doenças de origem alimentar mais graves no cenário epidemiológico global.



O estudo da sobrevivência da Listeria monocytogenes em alimentos refrigerados é, portanto, um campo estratégico tanto para a ciência básica quanto para aplicações práticas.


Ele envolve compreender aspectos microbiológicos, fisiológicos e bioquímicos do micro-organismo, além de normas sanitárias e regulamentações técnicas que guiam indústrias e órgãos de fiscalização.


Além disso, compreender esses mecanismos possibilita o desenvolvimento de novas tecnologias de controle, metodologias de análise mais eficazes e políticas públicas que reforcem a segurança alimentar.



Neste artigo, discutiremos de forma aprofundada o histórico e fundamentos teóricos ligados à Listeria monocytogenes, suas estratégias de adaptação a baixas temperaturas, a importância científica e prática do tema para a saúde pública e setores industriais, as metodologias analíticas utilizadas para detecção e monitoramento do patógeno, bem como perspectivas futuras para inovação e mitigação de riscos.


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Contexto Histórico e Fundamentos Teóricos


Descoberta e primeiros estudos


A Listeria monocytogenes foi descrita pela primeira vez em 1926 pelo veterinário britânico E. Murray e colegas, após surtos de uma doença até então pouco compreendida em coelhos e cobaias.


A bactéria recebeu inicialmente o nome de Bacterium monocytogenes pela capacidade de induzir monocitose em animais infectados. Pouco depois, em 1927, Pirie propôs o nome Listerella hepatolytica, posteriormente consolidado como Listeria monocytogenes em homenagem a Joseph Lister, pioneiro da cirurgia asséptica.


A partir da década de 1980, surtos alimentares em larga escala começaram a chamar a atenção para o risco da bactéria em produtos refrigerados, especialmente em queijos macios, carnes processadas e vegetais crus.


O famoso surto de listeriose nos Estados Unidos em 1985, ligado ao consumo de queijos frescos contaminados, marcou um divisor de águas para a vigilância sanitária internacional.


Desde então, a bactéria foi incluída entre os principais patógenos de interesse na segurança alimentar.

Características microbiológicas


Listeria monocytogenes é um bacilo Gram-positivo, anaeróbio facultativo, móvel em temperaturas intermediárias (20–25 °C) e não esporulado.


Uma das características mais marcantes é sua psicrotrofia, ou seja, a capacidade de sobreviver e até se multiplicar em temperaturas próximas a 0 °C, condição encontrada em câmaras frias, refrigeradores domésticos e linhas de produção de alimentos.


Além disso, apresenta resistência relativa a ambientes com baixa atividade de água e alto teor de sal, características que dificultam sua eliminação em produtos curados e processados.


Seu metabolismo versátil permite a utilização de diferentes fontes de carbono e sua estrutura celular robusta confere proteção frente a variações ambientais.

Evolução regulatória


A crescente preocupação com a listeriose levou à formulação de marcos normativos importantes:

  • Codex Alimentarius (FAO/OMS): estabelece parâmetros microbiológicos para alimentos de risco.

  • União Europeia (Regulamento CE nº 2073/2005): fixa critérios microbiológicos para L. monocytogenes em alimentos prontos para consumo.

  • FDA (Food and Drug Administration – EUA): adota a política de “tolerância zero” para Listeria em alimentos prontos para consumo.

  • Brasil (ANVISA – RDC nº 331/2019): define padrões microbiológicos obrigatórios em diferentes categorias de alimentos, incluindo limites específicos para L. monocytogenes.

Esses regulamentos refletem a evolução do conhecimento científico sobre a bactéria e a necessidade de padrões rígidos de segurança.

Importância Científica e Aplicações Práticas


Impactos na saúde pública


A listeriose é considerada uma doença rara, mas grave. Estimativas do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, EUA) indicam aproximadamente 1.600 casos anuais nos Estados Unidos, com cerca de 260 mortes, resultando em taxa de letalidade superior à de outras doenças alimentares, como salmonelose e campilobacteriose.


No Brasil, surtos de listeriose ainda são subnotificados, mas estudos acadêmicos apontam prevalência considerável em produtos lácteos artesanais e carnes processadas.


A combinação entre longos períodos de incubação (em média 1 a 4 semanas), gravidade clínica e dificuldades diagnósticas torna a doença um desafio para sistemas de vigilância.


Impactos econômicos e industriais

Para a indústria alimentícia, a contaminação por L. monocytogenes representa riscos econômicos expressivos. Lotes contaminados podem levar a:

  • recolhimento de produtos (recalls),

  • perda de credibilidade da marca,

  • processos legais e indenizações,

  • barreiras ao comércio internacional,

  • custos adicionais com monitoramento e higienização.


Estima-se que, apenas nos EUA, os custos anuais diretos e indiretos associados à listeriose ultrapassem 2 bilhões de dólares.


Aplicações em diferentes setores


  • Indústria láctea: queijos frescos, queijos de casca lavada e leite cru são produtos de risco elevado.

  • Carnes e embutidos: a bactéria sobrevive em produtos refrigerados e embalados a vácuo, como presuntos fatiados.

  • Vegetais minimamente processados: Listeria pode persistir em folhas embaladas e saladas prontas.

  • Produtos do mar: peixes defumados refrigerados são veículos frequentes em surtos.


Casos documentados em países europeus mostraram a associação de listeriose com consumo de salmão defumado embalado a vácuo, reforçando o caráter internacional do problema.


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Metodologias de Análise


Métodos tradicionais


O isolamento de Listeria monocytogenes em laboratório historicamente baseia-se em cultivo seletivo.


O protocolo padrão inclui etapas de pré-enriquecimento e enriquecimento seletivo (em meios como Fraser broth e Oxford agar), seguidas de testes bioquímicos confirmatórios. Esse processo, embora confiável, é demorado, podendo levar de 5 a 7 dias para resultados finais.


Métodos rápidos e moleculares


Com a necessidade de respostas mais ágeis, novas metodologias foram desenvolvidas:

  • PCR convencional e PCR em tempo real (qPCR): permitem detecção rápida e sensível, reduzindo o tempo para menos de 24 horas.

  • ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay): detecta antígenos específicos da bactéria.

  • Biossensores: em fase de desenvolvimento, visam análise em tempo real em linhas de produção.


Normas e protocolos

  • ISO 11290-1 e 11290-2: estabelecem métodos horizontais para detecção e enumeração de Listeria monocytogenes.

  • AOAC International: valida métodos rápidos aplicáveis em indústrias.

  • FDA-BAM (Bacteriological Analytical Manual): referência para protocolos oficiais nos EUA.


Limitações e avanços tecnológicos


Apesar dos progressos, ainda existem desafios, como falsos negativos em matrizes alimentares complexas e custo elevado de métodos moleculares em países em desenvolvimento.


Contudo, a integração de tecnologias digitais, como análises preditivas e inteligência artificial aplicada ao monitoramento, tem potencial de revolucionar a vigilância microbiológica.


Considerações Finais e Perspectivas Futuras


A sobrevivência da Listeria monocytogenes em alimentos refrigerados representa um desafio singular para a segurança alimentar global.


Sua capacidade de persistir em condições adversas e causar infecções graves reforça a necessidade de vigilância contínua e inovação tecnológica.


Para instituições de pesquisa, indústrias e órgãos regulatórios, algumas direções se destacam:


  • Pesquisa básica: aprofundar o conhecimento sobre mecanismos genéticos e moleculares de adaptação ao frio.

  • Inovação tecnológica: investir em embalagens inteligentes com agentes antimicrobianos, biossensores e tecnologias de barreira.

  • Capacitação institucional: reforçar programas de boas práticas de fabricação (BPF) e análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC).

  • Políticas públicas: ampliar a obrigatoriedade de monitoramento e a rastreabilidade ao longo da cadeia produtiva.

  • Educação do consumidor: conscientizar sobre riscos do consumo de alimentos crus ou mal armazenados.


Ao mesmo tempo em que apresenta riscos severos, a Listeria monocytogenes também representa uma oportunidade de avanço científico.


O estudo de sua resiliência em baixas temperaturas fornece insights valiosos não apenas para a microbiologia de alimentos, mas também para a biologia de micro-organismos extremófilos e aplicações biotecnológicas.


Diante disso, conclui-se que a luta contra a listeriose depende de uma abordagem integrada, envolvendo ciência, indústria e regulação, sustentada pelo compromisso institucional com a saúde pública e a segurança alimentar.

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FAQ – Como a Listeria monocytogenes sobrevive em alimentos refrigerados


1. O que é Listeria monocytogenes e por que ela preocupa na segurança alimentar?

A Listeria monocytogenes é uma bactéria patogênica capaz de causar listeriose, doença de alta gravidade e elevada taxa de letalidade. Sua maior preocupação decorre da capacidade de sobreviver e se multiplicar em alimentos refrigerados, o que compromete métodos tradicionais de conservação e aumenta os riscos de contaminação em produtos prontos para consumo.


2. Quais alimentos apresentam maior risco de contaminação por Listeria?

Os principais alimentos associados à contaminação por Listeria incluem queijos frescos e queijos de casca mole, carnes processadas e fatiadas, vegetais minimamente processados, peixes defumados, laticínios crus e produtos prontos para consumo armazenados sob refrigeração.


3. A refrigeração elimina ou controla totalmente a Listeria monocytogenes?

Não. Diferente de muitos outros micro-organismos, L. monocytogenes é psicotrófica, ou seja, consegue sobreviver e até se multiplicar em temperaturas de refrigeração (0–7 °C). Por isso, apenas refrigerar não garante a segurança do alimento.


4. Quem está mais vulnerável à listeriose?

Os grupos de risco incluem gestantes, recém-nascidos, idosos e pessoas imunocomprometidas. Nestes indivíduos, a infecção pode evoluir para formas graves, como septicemia e meningite, com taxa de mortalidade que pode ultrapassar 30%.


5. Quais métodos são usados para detectar Listeria monocytogenes em alimentos?

As metodologias mais utilizadas incluem:

  • Cultura microbiológica tradicional, com enriquecimento seletivo.

  • Métodos moleculares, como PCR e qPCR, que permitem maior rapidez e sensibilidade.

  • Ensaios imunológicos, como ELISA.Além disso, normas internacionais como ISO 11290 e protocolos da FDA e AOAC regulam os métodos aplicáveis.


6. Quais medidas as indústrias alimentícias podem adotar para prevenir a contaminação por Listeria?

As principais medidas incluem:

  • aplicação rigorosa de Boas Práticas de Fabricação (BPF),

  • monitoramento ambiental constante,

  • análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC),

  • uso de embalagens com barreiras antimicrobianas,

  • educação continuada de funcionários e conscientização de consumidores.

 
 
 

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