Enterococos na Balança: Entendendo a Análise Laboratorial e sua Importância para a Saúde Pública
- Enfermeira Natalia Balsalobre
- 11 de ago. de 2023
- 7 min de leitura
Introdução: Os Bactérias do Nosso Dia a Dia
No universo invisível a olho nu que nos rodeia – na água que bebemos, nos alimentos que consumimos e até em nossa própria microbiota –, trilhões de micro-organismos desempenham papéis fundamentais.
Entre eles, estão as bactérias do grupo Enterococcus, um gênero de grande dualidade: são comensais naturais do nosso intestino, mas também podem se tornar agentes de infecções sérias e indicadores críticos de contaminação.
Compreender a presença, a quantidade e o tipo de enterococo em uma amostra ambiental, alimentar ou clínica não é uma mera formalidade técnica.
É uma necessidade de saúde pública, um requisito legal para indústrias e uma ferramenta vital para garantir a segurança e a qualidade.
Este post tem como objetivo mergulhar fundo no mundo da análise laboratorial de enterococos, tornando conceitos microbiológicos complexos em informações acessíveis para todos que se preocupam com segurança e qualidade.

O Que São Enterococos? Além do Nome Científico
Antes de analisá-los, precisamos saber quem são os "personagens" principais. Os enterococos são bactérias Gram-positivas, em forma de coco (esféricas), que frequentemente formam cadeias.
São anaeróbios facultativos, o que quer dizer que podem sobreviver com ou sem oxigênio, uma característica que contribui para sua notória resistência.
De Onde Eles Vêm?
Sua origem primária é o trato intestinal de humanos e animais de sangue quente.
Portanto, sua detecção no ambiente (como em rios, praias ou esgotos) ou em alimentos é um potente indicador de contaminação fecal.
Isso significa que onde há enterococos, há uma alta probabilidade de que haja também outros micro-organismos patogênicos provenientes de fezes, o que eleva o risco à saúde.
A Dualidade: Comensal vs. Patogênico
Papel Comensal: No intestino, certas espécies de enterococos fazem parte da flora normal e até auxiliam na digestão.
Papel Patogênico: Quando translocadas para outras partes do corpo (trato urinário, corrente sanguínea, feridas), algumas espécies, notadamente Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium, podem causar infecções graves como endocardites, septicemias e infecções urinárias. Sua capacidade de desenvolver resistência a antibióticos (como a vancomicina, dando origem aos VRE - Vancomycin-Resistant Enterococci) é uma das maiores preocupações da medicina moderna.
É precisamente por causa dessa dualidade e de seu papel como indicador que a análise laboratorial de enterococos é tão importante.
Por Que Analisar Enterococos? A Importância da Detecção
A detecção e enumeração de enterococos servem a múltiplos propósitos, indo muito além do simples diagnóstico.
Indicador de Qualidade Microbiológica da Água:
Enquanto a E. coli é o principal indicador de contaminação fecal recente na água, os enterococos são mais resistentes no ambiente aquático.
Sua presença é um indicador de contaminação fecal persistente. Por isso, são parâmetros cruciais para:
Balneabilidade de Praias: A legislação brasileira (CONAMA) utiliza a contagem de enterococos como um dos parâmetros para declarar uma praia como própria ou imprópria para banho.
Potabilidade da Água: Embora a E. coli seja o parâmetro primordial, a análise de enterococos fornece uma camada adicional de segurança no monitoramento da água para consumo humano.
Qualidade de Águas de Reuso e Efluentes: Avalia a eficiência de estações de tratamento de esgoto (ETEs) em remover micro-organismos de origem fecal.
Segurança de Alimentos: Em alimentos, a presença de enterococos pode indicar:
Falta de Higiene durante o Processamento: Contaminação pós-processo térmico, falhas na higienização de equipamentos ou manipulação inadequada.
Deterioração: Algumas espécies podem estragar alimentos, especialmente laticínios e produtos cárneos.
Origem Fecal: Apesar de não serem um indicador fecal primário para alimentos (lugar ocupado pela E. coli), sua detecção ainda assim sinaliza um risco potencial.
Vigilância em Saúde Pública
A monitorização de cepas de enterococos, especialmente as resistentes a antibióticos (VRE), em ambientes hospitalares é essencial para conter surtos e definir protocolos de controle de infecção.
O Passo a Passo da Análise Laboratorial de Enterococos
Aqui, desmistificamos a técnica. A metodologia padrão-ouro segue protocolos rígidos estabelecidos por organizações como a APHA (American Public Health Association) e a ISO (International Organization for Standardization).
O processo pode ser dividido em três etapas principais:
Fase 1: Pré-Análise e Preparo da Amostra
Tudo começa com a correta coleta e transporte. A amostra (água, alimento, swab de superfície) deve ser coletada de forma asséptica, em frascos estéreis, e mantida sob refrigeração até a chegada ao laboratório, para evitar alterações na microbiota original.
No laboratório, a amostra é homogeneizada e, se necessário, são preparadas diluições seriadas em solução salina peptonada para facilitar a contagem.
Fase 2: Técnicas de Análise - A Caça aos Enterococos
Existem duas abordagens principais:
Método Tradicional de Filtração por Membrana (para Água)
1. Filtração: Um volume definido da amostra de água é filtrado através de uma membrana porosa com malha de 0.45 µm, que retém as bactérias na sua superfície.
2. Incubação: A membrana é colocada em um meio de cultura seletivo e diferencial, como o Ágar m-Enterococcus.
3. Seletividade e Diferenciação: Este meio contém nutrientes para o crescimento, mas também agentes (como azida sódica) que inibem o crescimento de outras bactérias não-enterococos (seletividade). Além disso, contém um substrato (telurito) que, quando metabolizado pelas enzimas dos enterococos, produz colônias de coloração preto-acinzentada (diferenciação).
4. Enumeração: Após a incubação (geralmente 48h a 35°C), as colônias típicas de enterococos são contadas. O resultado é expresso em Unidades Formadoras de Colônia (UFC) por 100 mL de água.
Método da Técnica do Número Mais Provável (NMP) - Para Águas, Alimentos e Efluentes
1. Inoculação: Alíquotas da amostra e de suas diluições são inoculadas em tubos contendo um caldo seletivo para enterococos, como o Caldo Azida Dextrose (CAD).
2. Incubação e Confirmação: Os tubos são incubados e observados quanto à turvação (crescimento bacteriano). Os tubos positivos são então submetidos a um teste de confirmação, como a semeadura em Ágar Bilis Esculina Azida (BEA). Os enterococos são capazes de hidrolisar a esculina no meio, produzindo um halo escuro ao seu redor.
3. Cálculo: O padrão de tubos positivos nas diferentes diluições é comparado com uma tabela estatística de NMP, que estima a concentração mais provável de micro-organismos na amostra original.
Fase 3: Confirmação e Identificação (Quando Necessário)
Para alguns fins, especialmente em vigilância clínica ou de resistência, é necessário ir além da enumeração e identificar a espécie.
Técnicas bioquímicas automatizadas ou moleculares (como PCR) são empregadas para distinguir entre E. faecalis, E. faecium e outras espécies, além de testar seu perfil de resistência antimicrobiana.
Interpretação de Resultados: O Que os Números Significam?
Um laudo laboratorial com o resultado da análise laboratorial de enterococos não é apenas um número. É uma ferramenta de decisão.
Para Água de Abastecimento: A Portaria de Consolidação GM/MS nº 888/2021 do Brasil estabelece a ausência de E. coli como parâmetro de potabilidade. Enterococos são usados como um indicador complementar em situações de investigação.
Para Balneabilidade: A legislação (CONAMA 274/2000) define que se a concentração de enterococos for superior a 100 UFC/100 mL em mais de 20% das amostras coletadas nas últimas 5 semanas, o local é considerado IMPRÓPRIO para banho.
Para Alimentos: A interpretação varia conforme o alimento. Em queijos, por exemplo, uma alta contagem pode indicar maturação (em queijos específicos) ou contaminação. A legislação brasileira, através da RDC nº 331/2019, estabelece critérios microbiológicos para diversos alimentos, e a presença ou contagem de enterococos é um parâmetro em alguns deles.
Interpretar esses resultados requer expertise para contextualizá-los com o tipo de amostra, o processo produtivo e a regulamentação vigente.

Conclusão: Da Análise à Ação - A Garantia que seu Projeto ou Produto Precisa
A análise laboratorial de enterococos é, portanto, muito mais do que um procedimento técnico de rotina.
É uma sentinela silenciosa que vigia a qualidade da nossa água, a segurança dos nossos alimentos e a eficácia dos nossos sistemas de saneamento.
É uma ferramenta poderosa de diagnóstico e vigilância em saúde, capaz de prevenir surtos e garantir a conformidade com as mais rigorosas normas sanitárias.
Seja você um empresário do setor alimentício que precisa garantir a qualidade microbiológica do seu produto, um gestor ambiental responsável pelo monitoramento de efluentes ou águas recreacionais, ou um profissional de saúde envolvido no controle de infecções, a precisão e confiabilidade dessas análises são não negociáveis.
É aqui que a expertise do nosso laboratório faz a diferença. Nossos serviços de análise laboratorial de enterococos são realizados por uma equipe altamente qualificada, utilizando metodologias validadas e equipamentos de última geração, seguindo os mais altos padrões de controle de qualidade (como a ISO/IEC 17025).
Garantimos não apenas resultados precisos e rastreáveis, mas também um suporte técnico especializado para ajudá-lo a interpretar os dados e tomar as melhores decisões corretivas ou preventivas.
Não deixe a qualidade ao acaso. Entre em contato conosco hoje mesmo e descubra como nossos serviços de análise microbiológica podem ser a base sólida para a segurança e o sucesso do seu negócio ou projeto.
A Importância de Escolher o Lab2bio
Com anos de experiência no mercado, o Lab2bio possui um histórico comprovado de sucesso em análises laboratoriais.
Empresas do setor alimentício, indústrias farmacêuticas, laboratórios e outros segmentos confiam no Lab2bio para garantir a segurança e qualidade da água utilizada em suas atividades.
Evitar riscos de contaminação é um compromisso com a saúde de seus clientes e com a longevidade do seu negócio. Investir em análises periódicas é um diferencial que fortalece sua reputação e evita prejuízos futuro.
Para saber mais sobre Análise de Água com o Laboratório LAB2BIO - Análises de Ar, Água, Alimentos, Swab e Efluentes ligue para (11) 91138-3253 (WhatsApp) ou (11) 2443-3786 ou clique aqui e solicite seu orçamento.
FAQ (Perguntas Frequentes)
Q: Enterococos são a mesma coisa que Escherichia coli?
Não. Ambos são indicadores de contaminação fecal, mas são bactérias completamente diferentes. A E. coli é um indicador de contaminação fecal recente, enquanto os enterococos são mais resistentes e indicam uma contaminação mais persistente. A análise de ambos fornece um quadro mais completo da qualidade microbiológica.
Q: Posso realizar a análise de enterococos em casa?
Não. A análise requer equipamentos especializados (autoclaves, estufas, cabines de segurança biológica), meios de cultura específicos e, o mais importante, pessoal técnico treinado para realizar os procedimentos de forma asséptica e interpretar os resultados corretamente. É um processo estritamente laboratorial.
Q: Quanto tempo leva para sair o resultado de uma análise?
O tempo padrão para os métodos de enumeração é de 48 a 72 horas, devido ao tempo necessário de incubação para o crescimento bacteriano. Identificações mais complexas (espécie ou resistência) podem levar dias adicionais.
Q: O que fazer se minha amostra apresentar um resultado acima do limite permitido?
Um resultado positivo ou acima do limite exige uma ação corretiva imediata. Para uma indústria de alimentos, isso significa investigar a linha de produção para encontrar a fonte de contaminação (equipamentos, manipuladores, matéria-prima) e reforçar os procedimentos de higienização. Para uma praia, o órgão ambiental deve emitir um alerta e investigar a fonte do lançamento de esgoto.
Q: Meu alimento teve ausência de enterococos. Isso significa que está 100% seguro?
A ausência de enterococos é um excelente indicador de que não houve contaminação fecal significativa ou falhas grosseiras de higiene. No entanto, a segurança alimentar é multifatorial. Um alimento pode ainda conter outros patógenos não correlacionados com enterococos (ex.: Staphylococcus aureus toxinogênico, Clostridium botulinum). A análise de enterococos é uma peça fundamental, mas não única, no quebra-cabeça da segurança alimentar.
Comentários