Análise de Amianto na Água: Guia Completo para Identificação e Redução de Riscos
- Enfermeira Natalia Balsalobre
- 26 de set. de 2024
- 9 min de leitura
Introdução: Por que se Preocupar com o Amianto na Água?
O amianto, também conhecido como asbesto, é uma família de fibras minerais naturais que, no passado, foi amplamente utilizada em todo o mundo em virtude de suas propriedades físico-químicas.
Sua grande resistência mecânica, à altas temperaturas, à ação de ácidos e álcalis, bem como sua durabilidade e baixo custo, renderam-lhe o apelido de "mineral mágico".
No entanto, décadas de estudos científicos comprovaram que a exposição ao amianto é extremamente perigosa para a saúde humana, estando diretamente relacionada a doenças graves e irreversíveis, como diversos tipos de câncer.
Embora a proibição da extração, industrialização e comercialização de amianto no Brasil tenha sido definitivamente mantida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2023, o legado de seu uso massivo ainda está presente em nosso ambiente.
Um dos veículos de exposição menos conhecidos, porém igualmente preocupante, é o abastecimento de água.
Muitas tubulações antigas, principalmente as de fibrocimento (conhecidas como "caixas d'água de amianto"), foram instaladas décadas atrás e ainda estão em operação.
Com a degradação natural desses materiais ao longo do tempo, as fibras de amianto podem se desprender e contaminar a água que chega às residências e estabelecimentos.
É crucial entender que não foram identificados níveis seguros para a exposição às fibras de amianto.
Por esse motivo, mesmo a presença de quantidades mínimas na água representa um risco que deve ser investigado e gerenciado.
Este guia tem como objetivo elucidar, de forma técnica porém acessível, os riscos associados ao amianto na água, as tecnologias disponíveis para sua análise precisa e as medidas eficazes para remoção e proteção da saúde de sua família ou da comunidade que você representa.
A conscientização é o primeiro e mais importante passo para a prevenção.

O que é o Amianto e quais são seus Riscos à Saúde?
Definição e Histórico
O amianto é um termo comercial que abrange um grupo de seis minerais fibrosos de ocorrência natural.
Suas fibras são microscopicamente finas, sedosas e extremamente resistentes, o que permitiu sua aplicação em mais de três mil produtos diferentes ao longo do século XX.
No Brasil, seu uso era maciço na indústria da construção civil, em produtos como telhas, caixas d'água, divisórias e tubulações; também era comum em materiais de fricção (pastilhas e lonas de freio), juntas, gaxetas e tecidos à prova de fogo.
Apesar de suas "qualidades mágicas", o amianto revelou-se uma substância de alto risco. O primeiro relato oficial linking a exposição ao amianto a doenças data de 1907.
A partir da década de 1970, evidências científicas sobre seu poder carcinogênico tornaram-se irrefutáveis, levando diversos países a banirem seu uso.
Em 2017, o STF, seguindo o entendimento de órgãos nacionais e internacionais de saúde, julgou inconstitucional uma lei federal que permitia o uso do tipo crisotila, determinando o banimento total da substância em todo o território nacional.
O ministro Dias Toffoli, em seu voto, destacou: "Hoje, o que se observa é um consenso em torno da natureza altamente cancerígena do mineral e da inviabilidade de seu uso de forma efetivamente segura".
Mecanismos de Ação no Organismo
O perigo do amianto reside no tamanho e na forma de suas fibras. Quando inaladas ou ingeridas, essas fibras microscópicas e pontiagudas podem penetrar nos tecidos do corpo.
Diferentemente de outras partículas, o organismo humano não é capaz de degradá-las ou expeli-las eficazmente.
Uma vez alojadas, elas desencadeiam um processo inflamatório crônico que, ao longo de anos ou mesmo décadas (período conhecido como "latência"), pode evoluir para doenças graves.
Doenças Associadas
A exposição ao amianto está relacionada a várias patologias, sendo as principais:
Asbestose: Doença pulmonar fibrosante e incurável, causada pelo acúmulo de fibras nos alvéolos pulmonares. Resulta na perda progressiva da elasticidade e da capacidade respiratória do pulmão.
Mesotelioma Maligno: Câncer raro e agressivo que afeta o revestimento da pleura (membrana que cobre os pulmões), do peritônio (abdômen) e do pericárdio (coração). Estima-se que a exposição ao amianto seja a única causa conhecida para o desenvolvimento do mesotelioma.
Câncer de Pulmão: A exposição ao amianto aumenta significativamente o risco de câncer de pulmão. Estima-se que 50% dos indivíduos com asbestose venham a desenvolver a doença.
Outros Cânceres: Há evidências que associam a exposição ao amianto a cânceres de laringe, ovário e do trato digestivo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 200 mil pessoas morrem anualmente no mundo devido a doenças relacionadas à exposição ao amianto no ambiente de trabalho.
Como o Amianto chega à Água e quais são os Perigos?
Vias de Contaminação Hídrica
A presença de fibras de amianto em sistemas de água ocorre principalmente por duas vias:
1. Degradação de Tubulações e Caixas d'Água de Fibrocimento: Esta é a fonte mais significativa. As tubulações antigas, que compõem a rede de abastecimento público, e as caixas d'água domiciliares feitas de cimento-amianto, com o passar dos anos, sofrem corrosão, abrasão e degradação natural. Esse processo contínuo libera fibras de amianto que são carregadas pela água. Fatores como a acidez da água (pH baixo), variações bruscas de pressão e falhas frequentes no abastecimento (que causam golpes de aríete e entrada de ar no sistema) podem acelerar agressivamente a deterioração desses materiais e a consequente liberação de fibras.
2. Fontes Naturais: Em raras ocasiões, depósitos naturais de amianto no solo podem ser erodidos e lixiviados para fontes de água superficial ou subterrânea.
A Polêmica: Inalação versus Ingestão
Há um consenso científico robusto de que a inalação de fibras de amianto é extremamente perigosa.
No entanto, o risco associado especificamente à ingestão via água potável ainda é alvo de debates e estudos adicionais.
Alguns órgãos, como a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), estabelecem um nível máximo de contaminante para o amianto na água (7 milhões de fibras por litro) como medida de precaução.
O perigo, porém, vai além da simples ingestão. A água contaminada é utilizada para uma série de outras atividades domésticas que podem transformar a fibra em partículas inaláveis. Por exemplo:
Ao tomar banho: A agitação da água no chuveiro pode aerossolizar as fibras, que são então inaladas.
Ao lavar roupas: As fibras podem aderir aos tecidos e, quando a roupa seca e é manipulada, são liberadas no ar.
Ao limpar a casa: O uso de água para lavar pisos e outras superfícies faz com que, quando a água seca, as fibras fiquem depositadas e possam ser ressuscitadas com a movimentação do ar.
Um documento do Parlamento Europeu alerta para esse risco, afirmando: "Quando a água seca, após essas atividades, liberta fibras que serão inaladas por seres humanos.
Por conseguinte, a água que contém fibras de amianto pode provocar a inalação das referidas fibras".
Dessa forma, o princípio da precaução deve prevalecer: na dúvida sobre a segurança e diante de um carcinógeno conhecido, a abordagem mais responsável é buscar a eliminação da exposição.
Metodologias para Análise de Amianto na Água
A detecção precisa da presença e da concentração de fibras de amianto na água exige procedimentos analíticos complexos e altamente especializados, que só podem ser realizados por laboratórios com equipamentos de última geração e equipe técnica qualificada.
A Importância da Acreditação
Ao buscar um laboratório para análise, é fundamental verificar se ele possui acreditação pela Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025.
Esta acreditação, geralmente concedida pelo CGCRE (Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro), atesta que o laboratório demonstrou competência técnica, utiliza métodos validados, mantém um rígido controle de qualidade e gera resultados tecnicamente válidos e confiáveis. É a principal garantia da qualidade analítica do serviço.
Etapas do Processo Analítico
O processo de análise de amianto em água geralmente segue as seguintes etapas:
1. Amostragem: É a fase crítica inicial. A coleta da amostra de água deve ser realizada por profissionais treinados, seguindo um protocolo rigoroso para evitar contaminação cruzada e garantir que a amostra seja representativa das condições reais do sistema. Utilizam-se frascos específicos e protocolos de preservação para manter a integridade da amostra até sua chegada ao laboratório. Laboratórios especializados possuem equipe e protocolos para mais de 20 anos de experiência em amostragem de água.
2. Pré-concentração: As fibras de amianto na água estão tipicamente em baixas concentrações. Esta etapa envolve a filtração de um grande volume de água através de uma membrana de carbonato de éster misto (MCE) com malha extremamente fina, que retém e concentra as fibras em sua superfície.
3. Preparação da Amostra: A membrana com o material retido é submetida a um tratamento que a torna transparente, permitindo a análise microscópica posterior.
4. Análise por Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET): Esta é a técnica mais avançada e precisa para a identificação e quantificação de fibras de amianto. O microscópio eletrônico de transmissão utiliza um feixe de elétrons para gerar imagens de altíssima resolução das fibras, permitindo visualizar estruturas em escala nanométrica.
5. Identificação e Contagem: Um analista experiente examina as imagens e, com base na morfologia (forma, comprimento, diâmetro), na composição elementar (através de espectroscopia de energia dispersiva - EDS) e na estrutura cristalina das fibras (através de difração de elétrons), consegue diferenciar o amianto de outras fibras minerais (como gipsita, wollastonita, etc.) e classificar os tipos de amianto presentes (crisotila, amosita, crocidolita, etc.).
6. Relatório Técnico: O laboratório emite um documento detalhado com os resultados, expressos em fibras por litro (f/L), interpretando os dados e comparando-os com os limites de referência estabelecidos pela legislação pertinente, como o valor da EPA . Este relatório é um documento técnico com validade legal e essencial para a tomada de decisões.

Conclusão: Da Conscientização à Ação
A presença de amianto na água é uma herança perigosa de um passado industrial que hoje compreendemos como arriscado.
A proibição nacional foi um avanço monumental para a saúde pública, mas não elimina os riscos associados à infraestrutura antiga ainda em operação.
A exposição a esse carcinógeno conhecido, mesmo que em baixas concentrações e por vias indiretas (como a inalação de fibras durante o banho), representa uma ameaça que não pode ser ignorada.
A abordagem mais segura e responsável é pautada no princípio da precaução. A análise da água por um laboratório acreditado, utilizando metodologias de ponta como a Microscopia Eletrônica de Transmissão, é o único meio de se obter um diagnóstico confiável sobre a qualidade da água que flui pelas torneiras de sua casa ou empresa.
Com um resultado preciso em mãos, é possível tomar decisões informadas para a proteção da saúde, seja através da instalação de sistemas de filtragem eficazes como a Osmose Reversa, seja através do advocacy pela modernização da infraestrutura pública de abastecimento.
Investigar e mitigar a presença do amianto no nosso ambiente, incluindo na água que consumimos, é mais do que uma medida de cuidado individual; é um compromisso com a saúde coletiva e com um futuro livre de doenças evitáveis.
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FAQ (Perguntas Frequentes)
1. O amianto na água realmente causa câncer?
Embora o risco principal e mais consolidado cientificamente seja pela inalação das fibras, existe a preocupação de que a ingestão ou, principalmente, a inalação de fibras aerossolizadas durante o uso da água (banho, limpeza) possa representar um risco à saúde. Diante de um carcinógeno reconhecido como o amianto, a abordagem de precaução é a mais recomendada.
2. Como posso saber se minha caixa d'água ou tubulação tem amianto?
Caixas d'água e tubos de fibrocimento de amianto eram muito comuns no passado. Eles têm uma cor cinza típica e uma textura fibrosa. Se sua casa ou prédio foi construído antes da proibição definitiva em 2017 (e especialmente antes dos anos 2000), há uma probabilidade significativa de a caixa d'água ou parte da tubulação ser feita desse material. A confirmação, no entanto, só pode ser feita através de análise de amostras do material em laboratório especializado.
3. Ferver a água remove o amianto?
Não. Ferver a água mata microorganismos, mas não remove fibras sólidas como as de amianto. Pelo contrário, a ebulição pode concentrar os contaminantes devido à evaporação da água.
4. Com que frequência devo analisar a água para amianto?
Recomenda-se uma análise inicial para estabelecer uma linha de base. Se o resultado for negativo e não houver mudanças na turbidez ou cor da água, uma análise a cada 2 ou 3 anos pode ser suficiente. No entanto, se a tubulação for muito antiga, se houver reformas na rede de abastecimento local ou se for detectada uma degradação acelerada da caixa d'água, a análise deve ser feita imediatamente.
5. Meu filtro de água comum, de carvão ativado, remove amianto?
Não. Filtros de carvão ativado são projetados para remover impurezas químicas (cloro, pesticidas) e melhorar o sabor e odor, mas são ineficazes para reter fibras de amianto . A tecnologia indicada para essa finalidade é a Osmose Reversa.




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