Análise de Mycobacterium na Água: Importância, Métodos e Aplicações Laboratoriais
- Enfermeira Natalia Balsalobre
- 26 de nov. de 2023
- 7 min de leitura
Introdução
A qualidade microbiológica da água é um dos pilares fundamentais para a saúde pública, a segurança ambiental e a prevenção de doenças infecciosas.
Entre os diversos microrganismos de interesse sanitário presentes no ambiente aquático, as micobactérias não tuberculosas (MNT), pertencentes ao gênero Mycobacterium, têm recebido crescente atenção devido à sua resistência natural a desinfetantes, capacidade de formar biofilmes e potencial de causar infecções em seres humanos, especialmente em indivíduos imunocomprometidos.
O gênero Mycobacterium engloba mais de 200 espécies descritas, sendo a maioria saprofíticas, mas algumas capazes de causar doenças oportunistas.
Essas bactérias são amplamente encontradas em ambientes naturais, como solos, águas superficiais, águas subterrâneas, sistemas de abastecimento e equipamentos hospitalares.
A presença de Mycobacterium avium, M. kansasii, M. fortuitum e outras espécies ambientais em sistemas de água tem sido relatada em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil.
A análise de Mycobacterium na água surge, portanto, como uma ferramenta essencial não apenas para a detecção e quantificação dessas bactérias, mas também para compreender os riscos potenciais associados à exposição e estabelecer medidas adequadas de controle e monitoramento.
Neste artigo, exploraremos em profundidade o papel das micobactérias ambientais na água, os principais métodos de detecção e identificação utilizados em laboratórios especializados, e a importância desse tipo de análise dentro das práticas de vigilância e controle sanitário.

O que são Mycobacterium e por que aparecem na água
Características gerais do gênero Mycobacterium
As micobactérias são bacilos aeróbios, imóveis, não esporulados e dotados de uma parede celular rica em lipídios, especialmente ácidos micólicos, que conferem a elas uma elevada resistência a agentes químicos e físicos.
Essa estrutura peculiar torna o gênero Mycobacterium altamente resiliente frente à cloração, variações de temperatura e desinfetantes comumente usados no tratamento de água.
Essas bactérias são classificadas, em geral, em três grandes grupos:
Micobactérias patogênicas obrigatórias – como M. tuberculosis e M. leprae.
Micobactérias ambientais ou oportunistas – como M. avium, M. kansasii, M. gordonae, M. fortuitum, entre outras.
Micobactérias saprofíticas – normalmente não patogênicas, mas que podem persistir em ambientes aquáticos.
Fontes e rotas de contaminação da água
As Mycobacterium ambientais podem ser introduzidas na água por meio de diferentes rotas:
Efluentes hospitalares ou industriais;
Escoamento superficial de solos contaminados;
Biofilmes formados em tubulações e reservatórios;
Sistemas de aquecimento e distribuição de água;
Torres de resfriamento, spas e piscinas.
A resistência natural dessas bactérias aos desinfetantes faz com que, mesmo após os processos convencionais de tratamento (como cloração ou ozonização), elas possam sobreviver e colonizar sistemas de abastecimento.
Além disso, as micobactérias têm a capacidade de aderir a protozoários, como Acanthamoeba spp., utilizando-os como “hospedeiros” para multiplicação e proteção, o que aumenta sua persistência no ambiente aquático.
Relevância da análise de Mycobacterium na água para a saúde pública
Riscos associados à exposição
Embora a infecção por micobactérias ambientais raramente ocorra por ingestão, a inalação de aerossóis contaminados (em chuveiros, torres de resfriamento, banheiras de hidromassagem, etc.) é uma via relevante de exposição. As doenças causadas por MNT incluem:
Doenças pulmonares semelhantes à tuberculose (por M. avium e M. kansasii);
Infecções cutâneas (por M. marinum e M. fortuitum);
Infecções sistêmicas em pacientes imunossuprimidos (por diversas espécies).
Com o aumento do número de pacientes com doenças crônicas, idosos e pessoas imunocomprometidas, a relevância clínica dessas bactérias tem se ampliado.
Importância do monitoramento ambiental
O monitoramento da presença de Mycobacterium na água é uma etapa crítica nos programas de vigilância sanitária, sobretudo em:
Hospitais e clínicas de diálise;
Indústrias farmacêuticas e cosméticas;
Estabelecimentos de produção de alimentos e bebidas;
Sistemas de abastecimento público e poços artesianos.
A detecção precoce permite prevenir surtos, ajustar processos de desinfecção e reduzir o risco de contaminação cruzada em ambientes críticos.
Metodologias utilizadas na análise de Mycobacterium na água
Coleta e preparação da amostra
O processo de análise começa com a coleta de amostras representativas da água em recipientes estéreis, geralmente volumes de 500 mL a 1 L.
Para aumentar a sensibilidade da detecção, as amostras são concentradas por filtração em membranas de 0,45 µm.
O material retido é, então, submetido a procedimentos de descontaminação seletiva para eliminar bactérias competitivas, preservando as micobactérias.
Métodos clássicos de cultivo
Os métodos convencionais baseiam-se no isolamento em meios sólidos como o Löwenstein-Jensen ou Middlebrook 7H10/7H11, após a descontaminação e inoculação da amostra.
Entretanto, o crescimento é lento — podendo levar de 7 a 21 dias ou mais.
Esses métodos permitem:
A quantificação de colônias (UFC/mL);
A observação de características morfológicas (pigmentação, velocidade de crescimento, etc.);
A realização de testes bioquímicos complementares.
Apesar de ser considerado o “padrão ouro” tradicional, o cultivo apresenta limitações como:
Longo tempo de resposta;
Dificuldade de recuperação de espécies viáveis, mas não cultiváveis;
Baixa sensibilidade quando há competição com flora heterotrófica.
Técnicas moleculares
Para superar as limitações dos métodos convencionais, os laboratórios modernos empregam métodos moleculares de detecção e identificação, como:
a) PCR (Reação em Cadeia da Polimerase)
A PCR é capaz de detectar DNA específico de Mycobacterium diretamente na amostra, reduzindo o tempo de análise para poucas horas.
Marcadores genéticos frequentemente utilizados incluem os genes hsp65, rpoB, 16S rRNA e ITS.
b) qPCR (PCR em tempo real)
Além de detectar, a qPCR quantifica o número de cópias genéticas, permitindo estimar a carga microbiana total.
Essa técnica é particularmente útil para avaliar a eficiência de sistemas de desinfecção e monitorar tendências de contaminação.
c) Sequenciamento e análise filogenética
O sequenciamento de regiões específicas (como 16S rRNA e hsp65) permite a identificação precisa de espécies, diferenciando M. avium de outras micobactérias ambientais.
Essa abordagem é crucial para estudos epidemiológicos e rastreamento de fontes de contaminação.
Métodos rápidos e emergentes
Além das técnicas clássicas e moleculares, novas tecnologias vêm sendo exploradas:
Biossensores eletroquímicos para detecção de ácidos micólicos;
Espectrometria de massas (MALDI-TOF MS) para identificação direta de isolados;
Métodos baseados em sondas fluorescentes e hibridização in situ (FISH);
Ensaios de viabilidade por RT-PCR ou PMA-qPCR (diferenciam células viáveis de mortas).
Esses avanços possibilitam diagnósticos mais rápidos, precisos e integrados a sistemas de controle automatizados.
Interpretação dos resultados e implicações práticas
A presença de Mycobacterium em amostras de água não implica necessariamente risco direto à saúde, mas indica falhas no sistema de tratamento ou higienização.
A interpretação deve considerar:
Espécie identificada;
Quantidade (densidade populacional);
Tipo de ambiente (hospitalar, industrial, recreativo);
População exposta (imunocompetente ou imunossuprimida).
A ausência de limites legais específicos para micobactérias na água potável — tanto no Brasil (Portaria GM/MS nº 888/2021) quanto em outras legislações — reforça a necessidade de análise interpretativa baseada em risco.
Em ambientes sensíveis, como hospitais e clínicas, a presença detectável já é motivo suficiente para revisão do sistema de desinfecção, inspeção de biofilmes e reavaliação de procedimentos de manutenção.
Aplicações laboratoriais e importância para diferentes setores
A análise de Mycobacterium na água é relevante em múltiplos contextos:
Setor hospitalar
Hospitais e clínicas devem monitorar sistemas de água utilizados em diálise, limpeza de instrumentos e procedimentos invasivos.
Mycobacterium pode colonizar torneiras, duchas e reservatórios.
Indústria farmacêutica e cosmética
A qualidade da água purificada é crítica para a formulação de produtos. A presença de micobactérias pode comprometer a integridade de cosméticos e medicamentos, gerando riscos e prejuízos econômicos.
Indústria alimentícia
Águas de lavagem, gelo e ingredientes líquidos devem ser isentas de microrganismos oportunistas.
Mycobacterium pode resistir a desinfetantes usados em CIP (clean-in-place), exigindo controle rigoroso.
Uso recreativo e doméstico
Piscinas, spas e chuveiros são locais frequentemente associados a surtos de Mycobacterium marinum e M. fortuitum.
O monitoramento reduz o risco de infecções cutâneas e respiratórias.
Controle e prevenção
A prevenção baseia-se em um conjunto de medidas integradas:
Limpeza e desinfecção periódica de reservatórios e tubulações;
Controle de temperatura (micobactérias proliferam em torno de 25–45°C);
Monitoramento microbiológico contínuo;
Uso de filtros e membranas adequadas em sistemas de purificação;
Treinamento de equipes de manutenção.
O acompanhamento periódico por um laboratório especializado em microbiologia ambiental garante resultados confiáveis e suporte técnico para correção de não conformidades.
O papel do laboratório na análise de Mycobacterium na água
Um laboratório especializado realiza:
Coleta técnica de amostras em pontos estratégicos;
Aplicação de métodos de concentração e descontaminação seletiva;
Cultivo e identificação molecular das espécies isoladas;
Interpretação dos resultados com base em risco sanitário;
Emissão de relatórios técnicos claros e rastreáveis.
Além disso, o laboratório pode oferecer planos de monitoramento contínuo, auditorias microbiológicas e consultoria sobre boas práticas de saneamento e manutenção de sistemas hidráulicos.

Conclusão
A análise de Mycobacterium na água é um instrumento essencial para garantir a segurança microbiológica em diferentes setores.
Dada a resistência e ubiquidade dessas bactérias, apenas métodos laboratoriais adequados são capazes de detectar sua presença e orientar medidas preventivas eficazes.
O investimento em análises regulares não apenas reduz riscos à saúde, como também fortalece a conformidade regulatória e a reputação de empresas e instituições comprometidas com a qualidade e biossegurança.
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FAQ – Perguntas Frequentes
1. As micobactérias podem causar doenças em pessoas saudáveis?
Em geral, apenas indivíduos com imunidade comprometida são mais suscetíveis. No entanto, espécies como M. fortuitum e M. marinum podem causar infecções cutâneas mesmo em pessoas saudáveis.
2. A cloração elimina Mycobacterium da água?
Não completamente. Devido à estrutura da parede celular rica em lipídios, essas bactérias são resistentes à cloração convencional, podendo persistir em biofilmes.
3. Qual é o tempo de análise laboratorial?
O cultivo pode levar de 7 a 21 dias, enquanto métodos moleculares (PCR/qPCR) fornecem resultados em até 24 horas.
4. Existe limite legal para Mycobacterium em água potável?
Atualmente, não há limite definido na legislação brasileira. A interpretação é feita com base em risco e tipo de uso da água.
5. Como saber se é necessário realizar essa análise?
Recomenda-se em locais com histórico de contaminação, sistemas de reuso, poços artesianos, hospitais, indústrias e locais com alto risco microbiológico.




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