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Água para Medicamentos: O Papel Crucial da Análise Laboratorial nos Requisitos de Água Purificada e Ultrapurificada

Introdução


A água. Uma molécula simples, composta por apenas dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, é o solvente mais universal e um dos insumos mais críticos na indústria farmacêutica.


Diferente de um princípio ativo, ela raramente aparece na bula, mas está presente na composição da esmagadora maioria dos medicamentos: desde xaropes e soluções injetáveis até comprimidos e cápsulas, onde é usada em processos de lavagem, extração e síntese.


No entanto, a água que consumimos diariamente, mesmo que potável, está longe de atender aos rigorosos padrões exigidos para a produção de fármacos.


Impurezas microscópicas, íons metálicos, compostos orgânicos e microrganismos, que são inofensivos em baixíssimas concentrações para o consumo humano, podem catalisar reações de degradação, inativar princípios ativos, introduzir toxinas e, no pior dos casos, causar graves reações adversas em pacientes, especialmente em formas injetáveis.


É por isso que a farmacopeia – o conjunto de normas e especificações que rege a qualidade de medicamentos – dedica capítulos inteiros para definir dois tipos essenciais de água: a Água Purificada (AP) e a Água Ultrapurificada (AUP ou WFI - Water for Injection).


Mas estabelecer regras no papel é apenas o primeiro passo. A garantia real e constante de que cada litro de água produzido atende a esses parâmetros incrivelmente restritos recai sobre um protagonista silencioso e indispensável: a análise laboratorial.


Este artigo se aprofundará no universo da água farmacêutica, explicando a fundo os requisitos para AP e AUP, e detalhando o papel meticuloso e crítico da análise laboratorial como guardiã da qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos que chegam até você.



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Entendendo a Água Farmacêutica: Muito Além da Pureza


Antes de mergulharmos nos métodos analíticos, é fundamental compreender o que distingue a água comum da água farmacêutica e as diferenças entre seus dois principais graus.



O que é Água Purificada (AP)


A Água Purificada é obtida a partir de uma fonte de água potável submetida a um rigoroso processo de purificação.


Os métodos comumente empregados incluem destilação, troca iônica, osmose reversa, eletrodeionização e ultrafiltração, muitas vezes usados em combinação.


Ela é amplamente utilizada em etapas não estéreis da fabricação de medicamentos, como:


  • Preparação de soluções para uso oral e tópico (xaropes, colírios, loções).

  • Lavagem de equipamentos e componentes que entrarão em contato com o produto em etapas não estéreis.

  • Como solvente em análises laboratoriais de controle de qualidade.

  • Produção de matérias-primas.



O que é Água Ultrapurificada (AUP/WFI - Water for Injection)?


A Água Ultrapurificada, ou Água para Injetáveis, representa o mais alto grau de pureza aquosa.


Ela atende a todos os requisitos da Água Purificada e impõe especificações ainda mais rigorosas, particularmente em relação ao conteúdo de endotoxinas bacterianas.


As endotoxinas são componentes da membrana externa de bactérias Gram-negativas. Quando injetadas na corrente sanguínea, mesmo em quantidades infinitesimais (medidas em Unidades Endotoxinas - UE), podem desencadear febre, choque séptico e até a morte.


Por isso, o limite para AUP é extremamente baixo: não mais que 0,25 UE/mL.


A AUP é obrigatória para:

  • Formulação de medicamentos parenterais (injetáveis), colírios e soluções de irrigação cirúrgica.

  • Lavagem de componentes que entrarão em contato direto com formulações estéreis (como frascos, ampolas e tampas).

  • Realização de testes de endotoxinas bacterianas.



A Farmacopeia: O Livro de Regras


Os parâmetros exatos que definem a AP e a AUP são estabelecidos por compêndios oficiais conhecidos como farmacopeias.


As mais influentes globalmente são a Farmacopeia Americana (USP), a Farmacopeia Europeia (Ph. Eur.) e a Farmacopeia Brasileira (FB).


Estes documentos não só listam os limites máximos permitidos para diversos contaminantes como também prescrevem os métodos analíticos validados para sua quantificação. A conformidade com estas normas é uma exigência regulatória obrigatória.



O Coração da Questão: Os Principais Parâmetros Analisados e Seus Riscos


A análise laboratorial da água farmacêutica é uma atividade complexa que monitora uma vasta gama de parâmetros.


Cada um deles está diretamente relacionado a um risco potencial para a qualidade do medicamento.



Parâmetros Físico-Químicos


Condutividade

É a medida da habilidade da água em conduzir corrente elétrica, diretamente proporcional à concentração de íons (cátions e ânions) dissolvidos.


Água pura é um mau condutor. Um valor de condutividade dentro do limite especificado é uma forte evidência de que os níveis de impurezas iônicas estão sob controle.



Carbono Orgânico Total (TOC)

Este parâmetro mede a quantidade total de carbono orgânico presente na água, servindo como um indicador sensível da presença de contaminantes orgânicos.


Esses contaminantes podem vir de fontes como matéria orgânica natural, resíduos de sanitizantes, substâncias lixiviadas de tubulações ou biofilmes.


Altos níveis de TOC podem promover o crescimento microbiano e interferir em processos de fabricação e análises.



Endotoxinas Bacterianas

Como mencionado, este é o parâmetro mais crítico para a AUP. O teste, chamado de Ensaio de Lisado de Amebócito de Limulus (LAL), é altamente sensível.


Ele utiliza um extrato de células sanguíneas do caranguejo-ferradura (Limulus polyphemus), que coagula na presença de endotoxinas.


Existem três metodologias principais: gel-clot (formação de gel), turbidimétrica (medida de turbidez) e cromogênica (medida de cor).



Controle Microbiológico


Contagem Microbiana Viável

O teste determina a quantidade de unidades formadoras de colônias (UFC) por volume de água.


Um sistema de água purificada deve ser mantido sob controle microbiológico constante, pois microrganismos podem:


  • Degradar ingredientes ativos e excipientes.

  • Formar biofilmes nas tubulações, tornando-se uma fonte contínua de contaminação.

  • Produzir endotoxinas (no caso de bactérias Gram-negativas).


O método envolve a filtração de um volume conhecido de água através de uma membrana, que é então incubada em meios de cultura específicos (como Ágar R2A) para promover o crescimento de colônias.



Identificação Microbiológica

Quando os limites de contagem microbiana são excedidos ou como parte de um programa de monitoramento preventivo, é crucial identificar os microrganismos presentes.


Esta identificação, feita por métodos bioquímicos ou moleculares (como sequenciamento genético), ajuda a investigar a fonte da contaminação (ex.: é um contaminante ambiental comum ou um microrganismo proveniente de uma falha no sistema de sanitização?).



Outros Ensaios Específicos


Dependendo da farmacopeia e da aplicação, outros testes podem ser exigidos, como:


  • Nitratos: Indicam contaminação de origem orgânica ou ambiental.

  • Metais Pesados: Podem ser catalisadores de reações de degradação ou serem tóxicos.

  • Resíduo de Evaporação: Mede a quantidade de sólidos dissolvidos totais não voláteis.



A Prática da Garantia: Metodologias e Técnicas de Análise Laboratorial


Garantir que a água está dentro dos especificações não é um evento único, mas um processo contínuo e validado. O laboratório de controle de qualidade é o centro nervoso dessa operação.



Amostragem: O Primeiro Elo (e Crítico) da Corrente


Uma análise é tão confiável quanto a amostra que a originou. A coleta de amostras de água purificada segue protocolos rígidos para evitar a contaminação externa que invalidaria os resultados.


  • Pontos de Amostragem: Amostras são coletadas em pontos estratégicos definidos em um plano de amostragem: na saída do sistema de geração (ponto de uso crítico), em pontos de retorno do loop de distribuição e em pontos de uso representativos.


  • Técnica Asséptica: O coletor deve usar luvas estéreis e manipular a torneira (bico de coleta) de forma a minimizar a contaminação. Um fluxo de água deve ser estabelecido por um tempo pré-determinado antes da coleta real para garantir que a amostra seja representativa da água dentro do sistema, e não da que ficou estagnada na saída.


  • Recipientes: Frascos estéreis e especificamente tratados (muitas vezes livres de pirógenos para testes de endotoxinas) são utilizados.



A Tecnologia por Trás dos Resultados Confiáveis


Um laboratório especializado emprega uma bateria de equipamentos de alta precisão para executar as análises:


  • Condutivímetro: Instrumento calibrado e com célula de medida de precisão para medir a condutividade, frequentemente acoplado ao sistema de forma contínua.


  • Analisador de TOC: Utiliza geralmente a oxidação por persulfato sob radiação UV e a medida do CO₂ resultante para quantificar com precisão o carbono orgânico em níveis de partes por bilhão (ppb).


  • Equipamento para Teste LAL: Analisadores automatizados que realizam os ensaios turbidimétricos ou cromogênicos, fornecendo resultados quantitativos precisos e reduzindo o erro humano inerente ao método de gel-clot.


  • Sistema de Filtração à Vácuo: Utilizado para a contagem microbiana, onde um volume definido de água é filtrado.


  • Estufas e Incubadoras: Para a incubação das membranas filtrantes em temperaturas controladas para a contagem microbiana.


  • Espectrômetro de Absorção Atômica ou ICP-MS: Para a detecção ultra-sensível de metais pesados e outros elementos inorgânicos.



Validação e Qualificação: A Base da Confiança


Nenhum resultado é considerado válido se o método e o equipamento utilizados não forem validados e qualificados. Isso envolve:


  • Qualificação de Equipamentos (IQ/OQ/PQ): Instalação, Operacional e Performance Qualification para garantir que o instrumento está instalado corretamente, opera conforme as especificações do fabricante e produz resultados precisos e reproduzíveis no ambiente do usuário final.


  • Validação de Métodos: Demonstração, através de estudos científicos, que o método analítico utilizado é adequado para o seu propósito, sendo preciso, específico, robusto e capaz de detectar e quantificar o analito de interesse na matriz água.


  • Controles de Qualidade e Calibração: Execução rotineira de testes com padrões de referência e amostras controles para garantir a contínua confiabilidade dos resultados. Todos os equipamentos são calibrados em intervalos regulares com padrões rastreáveis.



Do Controle à Conformidade: A Análise como Pilar Regulatório


O trabalho do laboratório transcende a simples geração de dados; ele é a espinha dorsal da conformidade regulatória e da garantia de qualidade contínua.



Atendimento às Normas Farmacopeicas e da ANVISA


No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) exige estrita adesão aos compêndios farmacopeicos, que têm força de lei.


O relatório de análise laboratorial é a prova documental de que a água utilizada na produção atendeu a todos os parâmetros legais.


Durante uma inspeção da ANVISA ou de outros órgãos reguladores internacionais, estes registros são minuciosamente revisados.


A falta de um único dado ou um resultado fora da especificação, sem uma investigação adequada, pode levar a paralisações de produção, recall de lotes e severas penalidades.



Investigação de Desvios e Ações Corretivas


Quando um resultado analítico indica um parâmetro fora da especificação (OOS - *Out of Specification), é acionado um complexo processo de investigação.


O laboratório, em conjunto com a engenharia e a garantia da qualidade, deve:


1. Revisar o teste: Verificar possíveis erros na coleta, no manuseio da amostra ou na execução do teste.


2. Repetir a análise: Confirmar o resultado.


3. Identificar a causa raiz: A contaminação é pontual ou sistêmica? É um problema no sistema de purificação, na tubulação de distribuição, na sanitização ou na operação?


4. Implementar Ações Corretivas e Preventivas (AC/P): Corrigir o problema imediato e modificar processos ou sistemas para evitar sua recorrência.


Neste contexto, a análise laboratorial precisa e confiável não é apenas um medidor de qualidade, mas a ferramenta de diagnóstico que guia a manutenção da saúde de todo o sistema de água.


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Conclusão: A Água que Cura – Um Legado de Confiança Construído no Laboratório


A água purificada e ultrapurificada é, inquestionavelmente, muito mais do que H₂O. É um produto de alta tecnologia, cuja qualidade é não negociável.


Cada frasco de solução injetável, cada xarope e cada comprimido que alcança o paciente carrega consigo um legado de confiança – uma confiança que é construída gota a gota através da análise laboratorial rigorosa, precisa e incessante.


O papel do laboratório vai além de "fazer testes". É uma função de vigilância, de garantia e de conformidade.


É a barreira final que impede que impurezas, microrganismos e toxinas perigosas comprometam a segurança e a eficácia de um medicamento.


Em um mundo onde a precisão salva vidas, a análise laboratorial é a guardiã silenciosa que assegura que a água, o solvente da vida, seja também um pilar da cura.



A Importância de Escolher o Lab2bio


Com anos de experiência no mercado, o Lab2bio possui um histórico comprovado de sucesso em análises laboratoriais.


Empresas do setor alimentício, indústrias farmacêuticas, laboratórios e outros segmentos confiam no Lab2bio para garantir a segurança e qualidade da água utilizada em suas atividades.


Evitar riscos de contaminação é um compromisso com a saúde de seus clientes e com a longevidade do seu negócio. Investir em análises periódicas é um diferencial que fortalece sua reputação e evita prejuízos futuro.


Para saber mais sobre Análise de Água com o Laboratório LAB2BIO - Análises de Ar, Água, Alimentos, Swab e Efluentes ligue para (11) 91138-3253 (WhatsApp) ou (11) 2443-3786 ou clique aqui e solicite seu orçamento.



FAQ: Perguntas Frequentes sobre Água e Análise Laboratorial em Medicamentos


P: Por que a água da torneira não pode ser usada para fazer medicamentos?

R: A água potável, tratada para ser segura para consumo, ainda contém níveis significativos de cloro, flúor, íons, matéria orgânica e microrganismos. Essas impurezas, em concentrações aceitáveis para beber, são altamente prejudiciais à estabilidade química e microbiológica dos medicamentos e podem causar sérios danos à saúde se injetadas.


P: Qual a diferença prática entre Água Purificada e Água Ultrapurificada?

R: A diferença mais crucial está no limite de endotoxinas bacterianas. A Água Ultrapurificada (AUP) tem um limite extremamente baixo (0,25 UE/mL) porque é usada em medicamentos que entram em contato direto com a corrente sanguínea (injetáveis), onde as endotoxinas são perigosíssimas. A Água Purificada (AP) não possui esse requisito tão rigoroso, sendo destinada a usos menos críticos, como medicamentos orais.


P: Com que frequência a qualidade da água é testada em uma indústria farmacêutica?

R: A frequência é intensa e definida por protocolos rígidos. Pontos críticos são testados diariamente para parâmetros como condutividade e TOC. Testes microbiológicos completos e de endotoxinas são realizados com frequência semanal ou, em alguns pontos, até diariamente. Além disso, o sistema de água é monitorado online 24 horas por dia.


P: O que acontece se uma análise detectar uma contaminação na água?

R: É iniciado imediatamente um protocolo de desvio e investigação. A produção que utiliza aquela água é paralisada. A equipe investiga a causa raiz (ex.: falha no sistema de purificação, biofilme, erro operacional) e implementa ações corretivas. Todo medicamento produzido com a água do período de risco é retido e avaliado, podendo ser descartado se houver risco à saúde.


P: Um laboratório independente pode realizar essas análises?

R: Sim. Muitas indústrias farmacêuticas terceirizam suas análises de controle de qualidade para laboratórios especializados e acreditados, como o nosso. Isso é vantajoso pois transfere a operação para experts, elimina a necessidade de investimento em equipamentos de altíssimo custo e garante a isenção e imparcialidade dos resultados, que são auditados regularmente.



 
 
 

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